terça-feira, 3 de maio de 2016

Cultura maker na escola: por que faz sentido

http://www.arede.inf.br/cultura-maker-na-escola-por-que-faz-sentido/

Cultura maker na escola: por que faz sentido

Na busca por uma pedagogia que privilegie o protagonismo do aluno, que produza colaboração e criatividade, atitude crítica e autonomia, a proposta é criar oficinas de invenções


Um dos textos mais impactantes da educação nos anos 1990 foi o Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século 21 para a Unesco, denominado “Educação, um tesouro a descobrir” e seus quatro pilares da educação, entre os quais o “aprender a fazer” – que trazia a ideia de desenvolvimento de competências em substituição à aprendizagem de tarefas específicas.
Estamos assistindo agora a uma nova onda em que o “fazer” se mostra para a educação com uma roupagem bastante distinta: a do movimento maker, onde o fazer é mesmo o colocar a mão na massa para produzir coisas, artefatos.
Sempre atenta às novidades, esta coluna vem buscando extrair delas o que podem agregar na busca da quebra da compartimentalização de conhecimentos e da rigidez da organização de tempos, espaços e papeis ainda presentes na educação formal. Afinal, como dizia Eisntein, loucura é esperar resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa!
Para tratar do maker na educação de forma resumida e com dicas úteis, nos valemos da prática do educador Moisés Zylbersztajn, um professor-experimentador que se arrisca diariamente em soluções para os desafios de inovar na educação.
Com a palavra, o colega: 

O desafio
Lapidar talentos, inspirar criatividade, solidariedade, colaboração, iniciativa, empreendedorismo, práticas capazes de produzir sentido permanente nesta modernidade líquida. 

A atitude maker
Estimula o Faça Você Mesmo (DIY – Do It Yourself) para todo tipo de projetos de ciência e engenharia caseiras. A filosofia tem suas origens, num nível básico, na ideia de reutilizar e consertar objetos, mais do que descartar ou comprá-los novamente. Em um nível mais profundo, é também uma ideia nova sobre o que significa ter algo: se você não é capaz de abrir e trocar as baterias de seu Ipad ou da sua TV, você realmente não tem esse dispositivo.

A intenção
Gerar mentalidade, hábitos, atitudes que tragam oportunidade para nossos alunos desenvolverem a capacidade de lidar e modificar de modo atento, equilibrado e positivo seus futuros.
A proposta
Na busca por uma pedagogia que privilegie o protagonismo do aluno, que produza colaboração e criatividade, atitude crítica e autonomia, a proposta é criar oficinas de invenções – espaços maker – na escola, onde, além de artefatos, seja produzida uma atitude de empoderamento e transformação da realidade nos alunos envolvidos e capaz de mobilizar a atenção dos adultos educadores para que experimentem um pouco dessa atitude maker em suas práticas, sejam professores de filosofia ou de ciências.

A chave do sucesso
Um oficineiro fixo, alguém que goste de consertar tudo, que entenda um pouco de tudo, que goste de trabalhar com crianças e, principalmente, que permita que esse espaço esteja sempre aberto, sempre disponível para receber os alunos quando estes tiverem tempo e quiserem concluir alguma coisa que começaram.

Dicas de ouro
Envolvimento dos educadores na criação do espaço e da proposta.
Começar adaptando espaços já existentes na escola.
Organizar o espaço junto com todos, em especial com os alunos.
Visitar outros espaços e manter-se colaborando com eles.
Comprar poucos equipamentos e ir comprando outros a partir das necessidades que emergirão do uso.

Quatro possíveis começos
  • Ensino de programação – inúmeros aplicativos e softwares podem levar adultos e crianças a perceber como funciona, de modo geral, a lógica que produz a inteligência nas máquinas. Comece pelo Scratch, ferramenta produzida no MIT, derivada do Logo, que é utilizada por larga comunidade educacional em todo o mundo. O interessante é produzir uma oficina sistemática, com aulas sequenciais pelo menos uma vez por semana.
  • Ensino de eletrônica e princípios de automação – o Arduíno é uma excelente opção, uma plaquinha controladora de sensores e motores, desenvolvida por italianos, com várias versões brasileiras, muito barato (um kit para 4 alunos custa R$ 150) e que induz um conhecimento essencial sobre o funcionamento dos circuitos elétricos básicos, base para a eletrônica digital. Novamente conta-se com uma enorme comunidade de prática que permite encontrar inúmeras boas ideias para projetos de todo tipo.
  • Aplicativos para celular – como permitir aos alunos maior iniciativa em relação ao que consomem nos seus celulares? Ensinando-os a criar aplicações úteis para resolver problemas de outros ou próprios, ensinando-os a otimizar o uso de seus aparelhos antes de descartá-los pela próxima novidade, ensinando-os a reciclar as partes úteis de um celular antigo. Há inúmeros programas de sustentabilidade mostrando caminhos e há bons softwares para desenvolvimento de aplicativos, como o APPInventor, da Google/MIT.
  • Impressoras 3D – maquininhas geniais que nos transformam imediatamente em produtores, seu processo de fabricação é envolvente e muito intuitivo. Recomendamos comprar impressoras baratas e se possível em kits desmontados para que os alunos e professores possam montá-las e dominar sua tecnologia e manutenção. Se possível procurar também impressoras cujas partes possam ser impressas em outra. Isso pode permitir que rapidamente se obtenha uma segunda máquina. Será muito útil. Uma opção é um scanner 3D, que obtém imagens tridimensionais de objetos para rapidamente reproduzi-los impressos. Custam cerca de 500 dólares. Usando um velho kinect, de R$ 300, pode-se construir um scanner com os alunos.
Como se nota, a proposta de “pôr a mão na massa” guarda valores e expectativas muito próximos à educação na busca por criar autonomia e criatividade, capacidade de modificar o mundo a seu redor e enfrentamento do consumismo, para citar os mais evidentes.
Se essas ideias parecem fazer sentido para as inquietações relacionadas a mudanças que a equipe da sua escola deseja, não vale a pena titubear: mão na massa é o espírito da coisa e… do it yourself.

Dicas de leitura e espaços maker

BLIKSTEIN, P. Digital Fabrication and ’Making’ in Education: The Democratization of Invention. In J. Walter-Herrmann & C. Büching (Eds.), FabLabs: Of Machines, Makers and Inventors. Bielefeld: TranscriptPublishers, 2013
BENKLER, Yochai – The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. Yale University Press, 2006

Este texto foi produzido pela MEIO a partir da adaptação e remix do texto original de Moisés Zylbersztajn (moises.zylb@gmail.com), coordenador de Tecnologia aplicada à Educação e Biblioteca do Colégio Santa Cruz e diretor da Giz Educação e Tecnologia.
logo-meio
Marcia Padilha e Adriana Martinelli são empreendedoras da MEIO, educadoras e articuladoras de inovações na educação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário